A convenção que ocorreu neste sábado (20), entre o Partido Liberal (PL) e o Partido dos Trabalhadores (PT) em Upanema, expõe uma contradição gritante e uma possível desobediência à resolução estadual do PL. Esta resolução, firmada pelo senador Rogério Marinho e pela Executiva Estadual, proíbe expressamente alianças com partidos de esquerda, como a Federação Brasil da Esperança (PT, PC do B e PV), nas eleições municipais de 2024. No entanto, o diretório municipal de Upanema parece operar em um universo paralelo, ignorando tais diretrizes com uma audácia que beira a afronta.
A situação em Upanema é um claro exemplo de coronelismo moderno, onde o diretório municipal se permite desobedecer à resolução estadual sob uma aparente proteção ou privilégio especial. Recentemente, o Podemos em Upanema substituiu um grupo político tradicional, ligado ao vice-prefeito Carlinhos Garcia (in memoriam), por um novo grupo alinhado com a liderança estadual, mas que paradoxalmente agora forma uma aliança com o PT. Essa mudança abrupta e autoritária imposta pela liderança estadual reforça a ideia de que a política partidária no Brasil ainda está repleta de manobras de controle e imposições que ignoram as vozes locais.
A convenção conjunta em Upanema incluiu, além do PL e do PT, partidos como PP, que encabeçou a chapa, o PV, PC do B, PSD, REPUBLICANOS e AGIR. Esse leque de alianças contraria diretamente a resolução estadual do PL, que visa evitar qualquer união com partidos de esquerda. A presença do PL nesse bloco de alianças em Upanema é um reflexo claro de um privilégio injustificável e uma aplicação seletiva das regras partidárias.
Essa dualidade levanta questionamentos sobre a consistência das estratégias políticas adotadas pelo PL. Por que o diretório municipal de Upanema tem permissão para ignorar uma resolução clara e inequívoca? Esse privilégio especial é um reflexo de uma estratégia política mais ampla ou simplesmente uma aplicação seletiva das regras? E, mais preocupante, que mensagem isso envia aos outros diretórios municipais e aos eleitores sobre a consistência e a integridade do PL?
A essência das alianças políticas e a busca incessante pelo poder a qualquer custo podem estar em jogo. Ao permitir que Upanema forme uma aliança com o PT, o PL sinaliza que suas resoluções podem ser moldadas conforme a conveniência política. Esse tipo de comportamento mina a confiança nas instituições partidárias e sugere que as regras são aplicadas apenas quando conveniente.
A contrariedade de Rogério Marinho se torna ainda mais evidente quando comparada a outro episódio recente em Mossoró. O senador rompeu com o ex-aliado, o prefeito Alysson Bezerra (União Brasil), por não conseguir indicar seu vice na chapa. Marinho vinha demonstrando insatisfação desde o segundo turno das eleições de 2022, quando, segundo ele, Alysson Bezerra negou apoio à candidatura à reeleição de Bolsonaro. O senador reconhece que o prefeito o apoiou no primeiro turno, mas não entende que, no momento mais importante, Alysson se ‘escondeu’.
Por outro lado, em Upanema, o prefeito era do próprio PL e também não apoiou Bolsonaro. Inclusive, por pressão do petismo, o chefe do executivo teve que trocar o PL pelo PP. Mas, ao invés de romper, Rogério, além de perder um prefeito e mais quatro vereadores, zerando o número de cargos eletivos no município, deixou o partido ainda nas mãos do grupo situacionista. Para “ludibriar” os fatos, o grupo situacionista prometeu uma forte nominata ao senador, mas a lista é composta por ferrenhos críticos do presidente Bolsonaro, demonstrando nitidamente que o único interesse foi transformar o PL em legenda subsidiária do projeto neopetista.
Situações como essa estão evidenciando rachaduras profundas no partido. Enquanto Rogério Marinho opta por deixar o partido nas mãos de pseudocorreligionários, como no caso de Upanema, ao invés de permitir que grupos verdadeiramente bolsonaristas liderem, deputados como Coronel Azevedo, General Girão e Sargento Gonçalves, que são bolsonaristas raízes, têm tomado decisões municipais diferentes do próprio partido. Esse descompasso entre a liderança estadual e os representantes locais bolsonaristas sinaliza um partido dividido e incoerente.
Essa situação coloca em xeque a liderança do senador Rogério Marinho. Sua ênfase na construção de uma cultura de respeito às decisões partidárias soa vazia diante da realidade de Upanema. Se a liderança do PL deseja ser levada a sério, precisa demonstrar que suas resoluções são mais do que palavras em papel, mas princípios que guiam as ações de todos os seus membros, independentemente de suas posições ou localizações.
Em resumo, a convenção conjunta entre o PL e o PT em Upanema não é apenas uma anomalia política, mas um sintoma de uma doença maior: a aplicação desigual e arbitrária das regras partidárias. Para restaurar a confiança e a integridade, o PL precisa urgentemente reavaliar suas práticas internas e garantir que suas resoluções sejam respeitadas de maneira uniforme. Caso contrário, corre o risco de se tornar mais um exemplo de um partido onde as regras são moldadas pela conveniência e pelo poder, e não pela justiça e pela unidade.